É muito comum que os pacientes perguntem, no consultório, qual deve ser nossa pressão ocular. Porém, essa resposta nem sempre é simples de se dar, afinal há muitas variáveis a se considerar. Em primeiro lugar, é preciso dizer que há um mito por trás da pressão ocular obrigatoriamente ser abaixo de 21mmHg para evitar o glaucoma.
Estudos populacionais mensurando a pressão ocular dos pacientes observaram a mediana em torno de 15mmHg e, com um artifício matemático, fez-se uma curva de Gauss, onde verificou-se que 21mmHg era o valor 2 desvios padrões acima. Assim, matematicamente foi dito que o valor cima de 21mmHg estaria acima do normal. Mas atestar que isso é a normalidade e acima disso é risco para glaucoma sem considerar todas outras variáveis é pobre. Então, foi assim que se criou o mito da pressão ideal em 21mmHg.
A mensuração da pressão é dada através da equação física Pressão = Força x Área e calibrada para córnea de espessura padrão entre 520-540 micrômetros. Mas devemos lembrar que há córneas mais ou menos espessas que oferecem mais ou menos resistência. Então, medidas de paquimetria (mede espessura da córnea) é fundamental nessa avaliação.
Outro fator fundamental a se levar em conta é se o paciente tem ou não glaucoma. O paciente portador de glaucoma necessita de controle pressórico mais agressivo que os que apresentam apenas hipertensão ocular. E qual seria a pressão alvo para o paciente com glaucoma? Isso aí também é variável. Depende se é um glaucoma inicial ou avançado e, principalmente, do acompanhamento da doença. Há pacientes que não apresentam piora funcional ou anatômica com determinadas pressões. Há outros que, mesmo com pressões abaixo de 11mmHg continuam a progredir a doença.
A pressão que precisamos ter é aquela que não faça evoluir para o glaucoma. E quem já o tem, que não piore a doença. Isso é variável e depende muito do acompanhamento com o campo visual para avaliação funcional, e do OCT e retinografia para avaliação anatômica. Converse com seu oftalmologista a respeito.